Portal da Cidade Penápolis

IMAGEM EM MOVIMENTO

“Pinóquio por Guillermo del Toro” é o favorito para Melhor Animação do ano

Rafael do Valle nos conta que cineasta mexicano imprime sua marca na clássica história do boneco de madeira que sonha em ser um menino de verdade

Publicado em 16/12/2022 às 08:00
Atualizado em

Cena do filme Pinóquio, de Guilherme del Toro - (Foto: Netflix, Inc - © 2022 )

Guillermo del Toro é um daqueles cineastas que construíram ao longo de sua carreira uma estética própria, que basta olharmos para a tela que reconhecemos a sua digital. Tanto é que seu nome figura no título da sua primeira animação de longa metragem, que acaba de estrear na Netflix. Pinóquio por Guillermo del Toro (Guillermo del Toro's Pinocchio, dir. Guillermo del Toro e Mark Gustafson, 2022) é uma releitura da clássica história do boneco de madeira, esculpido por Gepeto, que sonha em ser um menino de verdade e cujo nariz cresce ao contar uma mentira.

Pinóquio, ou Pinocchio, é uma personagem do romance italiano As Aventuras de Pinóquio, escrito por Carlo Collodi e publicado em 1883. Desde então teve muitas adaptações. A mais conhecida é a animação da Disney, de 1940. É nessa animação que ouvimos o Grilo Falante cantar When You Wish upon a Star, a primeira canção da Disney a ganhar um Oscar, e que se tornaria o hino do estúdio. A clássica animação da Disney ganhou uma versão live-action neste ano, com Tom Hanks interpretando o marceneiro italiano Gepeto. Os dois filmes estão disponíveis na Disney+.

A versão de del Toro também tem canções, mas toma outros rumos. O que nos chama a atenção logo de cara é o fato de a animação ser produzida em stop-motion. Somado a isso, novas tecnologias possibilitaram maior realismo à animação. Tudo está muito lindo e cheio de detalhes. Pinóquio foi realmente transformado em um boneco de madeira, com todas as texturas que a matéria possui. Essa é uma diferença gritante em relação ao filme da Disney, cujo boneco, com seus olhos azuis, não parecia ter sido esculpido em madeira. A Fada Azul também é outra personagem totalmente reimaginada por del Toro. Em seu lugar, ainda que azul, temos um Espírito da Floresta, com seus muitos olhos, tal qual os querubins descritos no Antigo Testamento. Uma das marcas do cineasta mexicano é a recorrente presença em suas obras de criaturas fantásticas, com aparência que destoa do convencional. Na animação ainda temos uma esfinge azulada, coelhos zumbis e, no lugar da baleira que engole Gepeto, uma enorme criatura marinha das profundezas.


Podesta fazendo a saudação romana. Foto por Netflix - © 2022 Netflix, Inc.

É provável que o mais assustador na animação não sejam as criaturas fantásticas, mas algo mais ligado à realidade. Diferentemente da maioria das versões de Pinóquio, que ocorrem na Itália de 1800, Guillermo del Toro transpôs o seu filme para a Itália fascista de 1930. Esta é a terceira vez que o cineasta mexicano produz um filme em que a fantasia ganha vida em meio a um conflito político da vida real. Em A espinha do Diabo (2001), a história se desenrola durante a Guerra Civil Espanhola (1936-1939). Depois de perder o pai na referida guerra, um jovem órfão é enviado para um orfanato assombrado por um espírito atormentado. Já O labirinto do Fauno (2006) tem como pano de fundo a Espanha franquista, período de muita repressão situado logo após a Guerra Civil Espanhola. Para escapar a esse cenário beligerante, uma menina busca refúgio no mundo da fantasia.

Rafael do Valle, doutorando em Filosofia pela Universidade Federal de São Carlos

Pinóquio

Em Pinóquio por Guillermo del Toro, tudo começa após a morte de Carlo, filho de Gepeto, durante um bombardeamento. O fascismo vai mostrando a sua face com a presença dos Camisas Negras, a milícia fascista

Rafael do Valle, doutorando em Filosofia pela Universidade Federal de São Carlos

Em Pinóquio por Guillermo del Toro, tudo começa após a morte de Carlo, filho de Gepeto, durante um bombardeamento. O fascismo vai mostrando a sua face com a presença dos Camisas Negras, a milícia fascista. Um deles é Podesta, miliciano que vigia o vilarejo de Gepeto, e que recruta crianças para se tornarem soldados. Pinóquio não escapará, e será mandado para um duro campo de treinamento. O ápice mesmo é quando Benito Mussolini se materializa como uma das personagens. Pinóquio, ao ingressar na trupe de Conde Volpe, é obrigado a performar para Il Duce, que, após os insultos recebidos durante a apresentação, exige a morte do boneco.

Apesar de tudo isso, a animação ainda é sobre a relação entre pai e filho e aceitação das diferenças. Sem superar a morte de Carlo, Gepeto espera que Pinóquio seja igual ao filho falecido. O boneco é diferente, tem dificuldade em ser aceito, e por isso quer ser livre, recusando todo tipo de ordem, o que dificulta ainda mais a sua vida sob um regime fascista. Os dois acabam se desentendendo. Gepeto não sabe lidar com a personalidade de Pinóquio, mas ainda assim o amo muito, como um filho mesmo. Quando o boneco finalmente entende isso, é o momento em que ele descobre a sua humanidade.

Assista ao trailer da nova animação da Netflix:


Fonte:

Deixe seu comentário