Em “Assassino por Acaso” (dir. Richard Linklater, 2023), filme que está em cartaz nos cinemas, acompanhamos Gary Johnson (Glen Powell), um sujeito peculiar e suspostamente desinteressante. Gary é professor de psicologia e filosofia na Universidade de Nova Orleans, pai de gatos, observador de pássaros e entusiasta por tecnologias. Sua vida é pacata e ele gosta disso. Não há motivos para mudar. Um tanto quanto intransigente. Assim é que sua ex-esposa o largou por conta dessa personalidade sisuda. A única coisa que talvez fuja um pouco do padrão são os bicos para o Departamento de Polícia de Nova Orleans. Entre uma aula e outra, Gary aplica seu conhecimento em tecnologia no gerenciamento de câmeras e escutas para uma equipe policial que intercepta possíveis tentativas de homicídio. Para ser mais específico, equipe que investiga pessoas interessadas em assassinos de aluguel.
Gary (Glen Powell) é um professor que nas horas vagas ajuda a polícia. (Foto: Divulgação/Diamond Films)
Acontece que o policial que fingia ser um assassino para incriminar os interessados no serviço mortal, acabou sendo afastado de última hora, sobrando ao Gary a arriscada tarefa de se passar por assassino e obter a confissão de um suspeito. Para a surpresa dos policiais, Gary se saiu muito bem. Um assassino de mentira natural. Por ser professor de psicologia, ele sabe com propriedade como identificar as motivações das pessoas. Gary dá o nome de Ron ao seu personagem assassino, e a cada novo caso adota uma personalidade compatível com o cliente, para que se sinta mais inclinado a abrir a boca e confessar que quer contratar um assassino. A partir desse jogo de personalidades, o velho Gary, aquele que se dizia imutável, parece perder espaço para a personalidade expansiva, sedutora e satírica de Ron.
Com o Ron falando mais alto, Gary quebra seus protocolos profissionais ao se envolver com Madson (Adria Arjona), uma cliente interessada em matar o marido. Desde a primeira cena dos dois juntos, a química do casal é tão grande que já podemos deduzir que daqui para frente tudo vai desandar para Gary. Madson em pouco tempo vai de esposa oprimida para femme fatale, ficando à altura do magnetismo de Ron. E assim o filme que parecia noir (policial) ganha contornos de comédia romântica. Mas devemos ressaltar que a comédia está presente do começo ao fim. Toda a investigação policial nunca foi levada a sério. No bom sentido, claro. Não tem piada. O que temos são diálogos irônicos e afiados que nos fazem rir por serem pontuais. Faz bem o humor inteligente. Mas não podemos negar que o absurdo também tem o seu lugar.
Gary (Glen Powell) vai abrir mão do profissionalismo para sair com Madson (Adria Arjona). (Foto: Divulgação/ Diamond Films)
O mais absurdo mesmo é que o filme é inspirado em história real. Realmente existiu um Gary Johnson que se passava por assassino de aluguel para ajudar a polícia. Assim como no filme, ele era professor de psicologia e utilizava os seus conhecimentos para moldar personagens. É claro que muita coisa no filme é ficção. Para começar, o Gary da vida real está longe de ter a beleza de Glen Powell, o ator do momento. Inclusive, o galã foi eleito um dos 10 atores jovens de Hollywood mais aclamados da atualidade. O ator fez enorme sucesso em “Top Gun: Maverick” (dir. Joseph Kosinski, 2022), e sem dúvidas “Assassino por Acaso” será outro sucesso, ainda mais por conta da direção de Richard Linklater. O filme é uma produção da Netflix, então, se você não puder confirme nos cinemas, não se preocupe, em breve estará disponível no streaming.
Assista ao trailer do filme:
Rafael do Valle, doutorando em Filosofia pela Universidade Federal de São Carlos.
📧 E-mail: rafaellopesdovalle@gmail.com
Gostaria de ter a sua coluna no Papo de Especialista?
Faça parte da editoria "Papo de Especialista" do Portal da Cidade.
Fale conosco pelo ☎️ WhatsApp (18) 99667-5005.
